Base Teórica


O Dicionário Semântico do Hebraico Bíblico (DSHB) privilegia a análise semântica do vocabulário do hebraico bíblico. Sua abordagem é a da lingüística cognitiva, acompanhando as pesquisas recentes na grande área hoje chamada de Ciências da Cognição. A partir das modernas teorias de categorização, busca-se dois objetivos relacionados. O primeiro é a construção de mapas cognitivos do hebraico bíblico, a dois níveis semânticos: o nível lexical e o contextual. Paralelamente, todo o vocabulário do hebraico bíblico é examinado, seguindo a ordem dos dicionários convencionais. Cada lexema, além de ser descrito segundo as convenções gramaticais normais, é identificado duplamente: na extensão de seu campo lexical e nos usos contextuais concretos em que aparecem nos textos que formam a Bíblia Hebraica.

O DSHB é, assim, um estudo sobre as diferentes concepções acerca da realidade cotidiana e do mundo que estão contidas na e que estão por trás da linguagem, no caso aqui, do hebraico bíblico, como atestável a partir dos textos em que ele é efetivamente usado. Por não ser mais uma língua viva, a compreensão do hebraico bíblico depende da análise dos textos em que ele se encontra registrado.

Como ainda não existe um mapeamento completo dos campos semânticos do hebraico bíblico, nem dos campos lexicais em sua inserção dentro de um mapa cognitivo da língua como um todo, a interação entre a identificação semântica e o mapeamento é o foco principal do trabalho  do DSHB, e sua contribuição mais original e significativa à pesquisa.

Campo Semântico Lexical

O campo semântico lexical de um lexema é aqui entendido como sua definição a partir de um mínimo de informações contextuais. Parte do que é entendido como definição normal de uma palavra, quando perguntamos por ela abstraindo-a de um contexto concreto. A partir daí, situa a palavra dentro de um mapa cognitivo que pretende mostrar a extensão do universo lingüístico do qual ela faz parte. O DSHB, seguindo uma distinção comum nos estudos semânticos, trabalha com uma distinção entre três tipos maiores de campo semântico lexical: objetos, eventos e termos relacionais. Os dois primeiros descrevem a realidade tal como apreendida por uma pessoa dentro de um determinado universo cultural e lingüístico. A diferença entre eles é que objetos se refere às coisas, seres ou entes em si, e eventos ao movimento entre os mesmos. Termos relacionais são todos os termos, geralmente partículas, com que uma língua expressa as relações intralingüísticas entre os objetos e eventos. No interior de cada um destes três há ainda um grande número de subdivisões que tentam rastrear o uso normal da língua em seus textos.

Campo Semântico Contextual

O campo semântico contextual de um lexema envolve a apreensão de seu significado nos contextos concretos em que é usada, e suas relações com o mesmo, tanto a nível linguístico como a nível filosófico. A mente humana percebe todo tipo de relações entre diferentes conceitos e classes de conceitos. Estas relações se expressam na linguagem. Uma análise semântica cuidadosa pode resultar na descoberta de diferentes padrões nestas relações semânticas. Assim os conceitos podem ser identificados por sua pertença a determinados campos semânticos. O significado de um conceito muitas vezes só pode ser completamente apreendido pela consideração de outros conceitos pertencentes ao mesmo campo semântico, e de suas relações com os mesmos.